sábado, 17 de abril de 2010

Psicanalista que mistura personagens de novela e filosofia em suas palestras faz sucesso.

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Duas vezes por semana, o edifício Leblon Corporate, sede de importantes bancos de investimento e corretoras de valores na Zona Sul da cidade, recebe um grupo de visitantes um tanto quanto insólito. Nas tardes de terça e quarta-feira, cerca de 250 mulheres com idade entre 35 e 80 anos abarrotam uma das salas de conferência do edifício para reuniões que nada têm a ver com negócios ou aplicações financeiras. Elas vão lá em busca de respostas para suas inquietações existenciais. O responsável por esse súbito afluxo feminino é o professor Manoel Thomaz Carneiro, ex-administrador de empresas convertido a psicanalista. Carneiro é o criador do Grupo de Estudos Pensar, entidade que organiza cursos e palestras com o objetivo de estimular os participantes a refletir sobre suas angústias. Para isso, lança mão de elementos pinçados da mitologia greco-romana, da psicanálise e da filosofia. O formato é um sucesso — as 250 vagas, em módulos que duram dois meses, costumam se esgotar rapidamente. “Minha proposta é apaziguar o coração das pessoas e auxiliá-las a ver quanto nós somos sadios. Tendemos a não nos considerar normais porque nos ensinam utopias como o amor é eterno, as pessoas são sempre felizes e que devemos ser otimistas todos os dias. O para sempre não existe”, filosofa o pensador de 51 anos.
A grande inspiração para o curso voltado às senhoras da Zona Sul do Rio veio de Paris, mais especificamente do psicanalista argentino radicado na capital francesa Juan David Nasio. Professor da Sorbonne e ex-aluno de Jacques Lacan, Nasio é um especialista na tradução dos conceitos complexos da psicanálise para o dia a dia das pessoas comuns. A cada ano, Carneiro passa três meses na França participando de reuniões promovidas por seu mestre. “Conhecimento é como um copo de água. Eu o dou cheio, as pessoas bebem, matam a sede. Daí tenho de beber de novo para me nutrir. Não é fácil criar novas aulas a cada dois meses”, explica. Ecléticas, suas palestras podem se valer de exemplos como o da personagem paraplégica Luciana, da novela Viver a Vida, para exemplificar uma discussão sobre destino, ou então o do casal Nardoni, condenado em São Paulo pela morte da filha Isabella, para ilustrar uma conversa sobre o lado bom e ruim da natureza humana. As alunas acham o máximo. “O curso liberta você das culpas. Quando você vê um grupo se reconhecendo nas mesmas questões, parece que elas ficam menores, mais fáceis de lidar e resolver”, diz a designer Alessandra Curvelo, 38 anos, seguidora dos ensinamentos do filósofo do Leblon há três anos. Não raro, as conversas vão além do salão e se prolongam pelos cafés e restaurantes da vizinhança, na Rua Dias Ferreira. Tudo muito chique e elegante — quase como no Quartier Latin.

Reportagem de Melissa Jannuzzi para a Revista Veja-Rio 21/04/2010

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