terça-feira, 20 de novembro de 2012

Como Está Sua Vontade de Estar no Mundo?



Minha família por parte de mãe é muito grande. Só ela tem nove irmãs e dois irmãos, que casaram e se multiplicaram e esta progressão resultou em muitos tios-avós, tios e primos de primeiro e segundo e terceiro grau quase como uma produção em 3D espalhada por 6 estados do Brasil.
Conviver com todos é uma tarefa impossível. Sabe-se das histórias: quem casa, adoece cura, muda de emprego, de vida, no entanto tudo é sabido quase como na época dos navegantes, por cartas eletrônicas, é claro mais modernizada do que as de Pero Vaz de Caminha, mas continuam sendo apenas notícias.
Para compensar esta lacuna e atualizar nossa memória, decidiram organizar um encontro aqui no Rio e lá fomos ao grande jantar com vista para a Baía de Guanabara, pensando é lógico naqueles que ainda não conheciam esta cidade.
Durante o evento, reconheci pessoas e sobretudo conheci outras tantas. A cada um que eu era apresentado dizia: “Poderíamos estar sentados lado a lado num avião que não saberíamos da proximidade familiar que temos.”
Conversava com o namorado canadense de uma prima que não via desde que ela era pequena, quando minha mãe começou a me chamar freneticamente para que eu cumprimentasse suas primas de 80, 90 e 92 anos. Todas, sem exceção, sabiam de mim, do que eu fazia e algumas ainda me disseram que acompanham o meu Blog.
Diante de tanta lucidez e sobretudo precisão no agora, me lembrei da introdução da aula que havia dado naquela semana. Falei sobre os 15 bilhões de anos que nos separa do início do Universo, constituído de um sistema chamado Via Láctea com 100 bilhões de estrelas, sendo uma delas o Sol. Em torno dele massas, e uma delas é a nossa Terra. Nela existe 3 bilhões de espécie de vida e nós somos uma destas. 
Fazemos parte da família humana que persiste e resiste. Quantas histórias, cataclismos, doenças, guerras e apesar destes pesares a nossa espécie permanece presente, viva. Somos frutos da coragem daqueles que persistiram, dos que se reinventaram. 
Foi através de cada ato de luta pela sobrevivência de nossos milhões de antepassados que a nossa vida na terra foi mantida.
Somos 7 bilhões... Somos uma vida que sobreviveu a tudo e por isto não está em extinção.
Entre todas as espécies, somos a única que consegue criar alternativas para os limites. Os animais não podem transformar a natureza das coisas. Quando encontram eximidos os elementos necessários à vida, sucumbem pouco a pouco. Todos eles são destituídos da capacidade de encontrar um pensamento abstrato para o planejamento de alternativas de ação. Por isso, podemos ter certeza que quando uma pessoa deixa de pensar uma perspectiva de continuidade diante de um problema, age como um objeto que permanece para sempre onde é colocado, incapaz de se retirar, de se proteger, de se transformar.
Uma pessoa sem enfrentamento se coloca refém da força do destino, se faz imobilizada devido a própria descrença na inteligência criativa e transformadora que tem em si mesma, que fez possível a permanência do ser humano na terra.
Uma pessoa sem confiança nesta capacidade fica a mercê da sua inatividade e exposta a sua erosão emocional e cognitiva.
O ser humano para atravessar montanhas em épocas bem distantes no princípio, contornou, mas com a inteligência transformadora pensou, projetou e realizou os túneis. Encontraram soluções, proteção, curas... Rompeu fronteiras. 
Próteses foram criadas para potencializar as nossas capacidades. A bicicleta e o carro ampliam nosso caminhar, une distâncias; as imagens televisivas aproximam realidades; os celulares e os computadores aceleram informações; os aviões nos fizeram voadores; a medicina nos preserva; a filosofia, a psicologia e a psicanálise nos esclarecem e amplificam nossos sentimentos saudáveis.
Como se imaginar sem capacidade diante do testemunho de tanta inventividade?
Como se imaginar só e desprotegido diante de tantos recursos?
 Muitos foram mimados pelas facilidades e querem a pílula da superação...
Imagine o que seria da vida se todos diante das dificuldades tivessem se sucumbido?
Seríamos uma espécie em extinção.
Quando vi minha mãe com 88 anos num vestido lenço e a prima mais velha dela com seus 92 anos, ereta, vestida com uma nova releitura de um tailleur em preto e branco, ágeis, potentes, gloriosas e orgulhosas, pensei que estava diante desta parcela da humanidade que se reinventa em cada tempo. Construíram túneis para atravessarem as montanhas e chegaram inteiras ao hoje de cada dia.
Enxergaram os obstáculos e usaram a engenharia mental para calcular as saídas.
Uma pessoa se mantém lúcida quando quer enxergar. Fugir, fechar os olhos é ordenar ao cérebro a destruição da visão mental das coisas. O que é a senilidade senão a gradual perda de todos os contatos... Contatos com a realidade, com os recursos internos.
O termo delírium é derivado do latim “delirare” que significa “estar fora do lugar”... Quando uma pessoa se paralisa diante de uma realidade que deve ser enfrentada, quando se fixa no passado, pode-se dizer que ela delira, pois está fora do seu lugar.
Quando uma pessoa igualmente perde a vontade de acompanhar o seu tempo, que é cada hoje e imobiliza-se, ela está no delírio, pois também está fora do seu lugar.
Quando uma pessoa deixa de se reinventar, para se deixar a mercê da erosão de si mesma e com esta postura delirante em relação aos seus recursos de enfrentamento e pilares de sustentação, ela se coloca em extinção. Ela delira, pois está fora do seu lugar. Por quê? Porque o ser humano não é uma espécie ameaçada de extinção.
O “delírio” está presente toda vez que alguém se vê sem recursos para sempre encontrar boas razões de estar no mundo.
Há um tempo tinha um vizinho, que me cumprimentava sempre de modo simpático, mas sem grandes conversas. Um dia me procurou e disse que gostaria de conversar um pouco comigo.
Este senhor reservado, aceitou um chá e começou a contar que quando ainda menino, durante a segunda guerra, foi levado para um campo de concentração. Separado da sua família permaneceu apenas com um amigo. Um dia cada um estava numa fila e por intuição e alguns sopros de notícias, sentiram que um deles iria morrer. Fizeram a promessa que aquele que sobrevivesse, iria trabalhar muito, casar e construir uma família bem grande... Eliminar a possibilidade da raça em extinção. Disse-me que passou a vida renovando em si mesmo esta promessa e que como sabia da minha profissão, queria me dar este testemunho de continuidade.
Assim como ele, minha mãe, as primas dela em diferentes contextos, diante de montanhas diversas uns dos outros, se mantiveram na vida inteiros porque encontraram uma boa razão para estar no mundo.
Eu tenho sempre claro as minhas razões...
Uma delas? O Despertar para a Reinvenção da Vida. 
Você tem claro em seus pensamentos as Boas Razões?
Aproveite esta época e se prepare para um Novo Ano, um Novo Modo de Estar no Mundo.
“Infinito Enquanto Dure”.
Encontre em si a engenharia dos túneis e atravesse com a postura dos vitoriosos as montanhas de dor.
Depois?  Quem sabe... Organize um grande jantar. Para que? Comemorar As Vidas Reinventadas.
Já é uma boa razão para estar no Mundo...

Por Manoel Thomaz Carneiro

12 comentários:

  1. Sônia Severiano Ribeiro20 de novembro de 2012 às 14:25

    Estar no mundo, para mim, uma vitoria, um presente de Deus, apesar dos espinhos do caminho, dos tropeços, das decepções, vale estar aqui, se reinventar, lutar e acreditar sempre.Nenhum "tunel" é infinito, la no fundo sempre encontraremos a LUZ. SÔnia

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    1. Sonia,
      Como é bom saber que você acompanha toda semana as cronicas. Como é bom saber também suas reflexões sobre cada tema.Uma boa razão para permanecer cronista do mundo.
      Um Beijo,
      Manoel Thomaz

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  2. Manoel, querido mestre e amigo!!!!
    Sinto muita falta de ouvir suas palavras nas aulas, mas fico radiante quando recebo o link do blog toda terca feira! É sempre um sopro de grande inspiracao!!!!
    Grande Beijo,
    Larissa Aczel

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    1. Larissa,
      Uma bela surpresa para mim saber que voce esta acessa o linK. Sinto falta da sua vibração e interesse...desde a turma do Jardim Botanico com o Gilberto.
      Um Beijo
      Saudades
      Manoel Thomaz

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  3. Ah...Manoel, como você está sendo importante na minha reivenção
    de vida! Um grande beijo querido e muito obrigada.

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    1. Obrigado,
      Uma tela branca para ser desenhada...eis o recomeço.
      Um Beijo,
      Manoel Thomaz

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  4. Manoel,
    Com efeito, habilidades e vontades são premissa para o caminho da realização, para o romper das tantas barreiras e nos tornarmos de fato, libertos.
    Todos queremos e podemos deixar a nossa marca neste mundo; isto é generosidade, sobretudo um legado de amor !
    Quando optamos por sermos livres, tendo a coragem de nos reinventarmos, certamente contribuímos não só para uma simples continuidade da espécie, mas mais que isso, criamos a possibilidade de ter, neste planeta terra, seres humanos da melhor qualidade...como vc , Manoel! Vc faz toda a diferença neste mundo! E é claro, na vida de todos que, como eu, tem o privilégio de ler , encantar-se e sentir todo o bem que vem de vc!
    Celebremos!!!
    Um beijo, Andréa J.

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    1. Celebremos...as engenharias mentais que concebem tantas e tantas boas continuidades.
      Obrigado Andréa,
      Um Beijo,
      Manoel Thomaz

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  5. Oi meu amigo querido!
    Queria que soubesse do orgulho que me invadiu qdo li sua crônica...indefectível. Manoel, sempre admirei o Paulo Coelho por conseguir falar do que tds nós sabemos mas, com a sutil diferença, de dizer de uma forma que "cala". Vc meu querido, consegue nos fazer revirar os interiores, vc nos inquieta. Obrigado por esse presente e por ser incansável na sua missão de nos trazer reflexões. Amo vc. Bjo da sua humilde discípula, M.

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  6. Delícia esta inquietude que conduz ao sossego.
    Obrigado,
    Um beijo,
    Manoel Thomaz

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  7. Manoel....Amei...Sua discipula com o maior orgulho
    Beijos
    Ge

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    1. Manoel,
      Tenho estado muitas vezes ausente por motivos pessoais, mas tenho lido seus artigos que transbordam de maneira simples e inteligente uma sabedoria que lava a alma e nos faz bem.Obrigada, um beijo! Sua aluna, Clara Ferreira.

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