terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Feliz Alma Nova


Precisava tirar uma foto para um documento e me indicaram duas opções: o photomaton que tem no supermercado Monoprix ou um fotógrafo na rue Brézin. Como detesto os resultados desses automáticos, optei pelo especialista.
Ao chegar ao número indicado, encontrei um pequeno estúdio equipado com o que há de mais moderno e um curvado senhor encostado no balcão. Pensei que fosse o avô ou mesmo o pai do fotógrafo, mas realizei logo, logo que se tratava do titular. Era tão ágil e seguro que seus sinais de idade desapareceram pouco a pouco em meu olhar. Colocou-me sentado e com uma firmeza impressionante dirigiu minha postura e minhas expressões: “Levante os ombros... Sorria apenas com os olhos... Erga um pouco seu rosto”. Diante de tamanha competência me senti diante de Tim Walker para a capa da Vogue de dezembro! Com a velocidade típica dos franceses, minutos depois manipulava as provas, definia os enquadramentos e as distâncias na busca do melhor resultado. Decidiu por si mesmo, colocou tudo num envelope e num tempo biônico disse: “Pronto. Se não fosse para um documento teria escolhido mais distância e a foto sairia melhor. Oito euros, Monsieur”. Quase que pedi uma tiragem para mim do modo mais artístico que ele havia assinalado... Mas voltei ao foco e fui providenciar o que deveria ser feito.
Saí impressionado com este senhor de uns oitenta anos que abriu sua alma para acolher a última geração de equipamentos. As paredes amareladas, as máquinas ultrapassadas e a velocidade de uma moviola sem dúvida estão longe da vida dele.
Absorvido pela força daquelas imagens pensei na proximidade da virada do ano. Pensei também nos muitos que recebem o ano novo como um vilão “distanciador” das referências de vida. Como se o novo apenas marcasse mais um traço na proximidade a velhice e as situasse num estatuto de prazo de validade vencido. Escuto muito, mas muito mesmo a expressão descritiva de uma época: “Isto no Meu Tempo era assim...”.
Essa frase denuncia que a pessoa que a diz, de modo inconsciente, já se excluiu do agora. Como se o hoje fosse um tempo do qual ela estivesse impedida de se apropriar.
Muitas pessoas aos 40 anos já se datam nas possibilidades, mesmo neste mundo expandido no qual vivemos. Percebo que a idade em muitos gera um sutil constrangimento no existir, como se estivessem na vida num prazo esgotado e, portanto sem direitos, mas com apenas deveres. Grave culpa, grave autodepreciação e gravíssimo erro de ótica em relação ao que é de fato viver em toda a implícita amplitude.
A morte é sem dúvida uma definitiva retirada da vida, mas muitos fazem uma gradual saída aos se excluírem do tempo atual, ao renunciarem a adaptação e também a possível e fascinante evolução em todas as fases.
Freud aos 82 anos no exílio em Londres devido a crescente perseguição nazista, com um câncer no palato muito avançado, já com 33 cirurgias em seu histórico continuou a evoluir seus pensamentos com ideias potentes e consideráveis até hoje. Foi até aos 83 anos com uma resiliência digna da ideia de “Super-Homem” de Nietsche.
Ouvi pelo rádio, na France Info, que deixo quase sempre ligado para aquecer o idioma em minha mente, a notícia sobre o falecimento de Oscar Niemeyer aos quase 105 anos. Sua longevidade pode ser compreendida através dos projetos que realizou. Seu trabalho arrojado, futurista e de linhas arquitetônicas de muita sensualidade, nos oferece o espelho da modernidade de sua alma e sem a menor dúvida, é neste estado de espírito que podemos reconhecer os vetores determinantes da longevidade física e mental deste imortal arquiteto. 
As pessoas acham que se trata apenas de uma questão de manter-se ocupado. A qualidade da vida cotidiana física e psicológica envolve a abertura ao atual... Nossa mente vive das eucaristias, ou seja, se alimenta das ideias que oferecemos a ela. Se alimentar de algo vencido, faz mal ao corpo... Se alimentar de cotidianos mofados faz mal a nossa mente. Tal modo de agir, como bem dizem os franceses, transforma qualquer pessoa em “Décalé”. Ela vive dessa forma em duas realidades a exterior que é o hoje e a interior, involuída e retrógada. 
Muitas pessoas apresentam uma alma amarelada pelo tempo...
Sou mais para os pensamentos do que para os equipamentos, mas sempre fui vigilante ao retrógrado para com isto me impedir que eu continuasse a ouvir música em vitrola... Mantenho-me aberto ao novo para que a minha alma encontre lugar no hoje de cada dia. Ponho-me muito atento neste aspecto.
Presto atenção a me inserir também no contexto que se apresenta.
Se uma pessoa desaparece da minha vida, apesar da falta é sem ela que tenho que viver... 
Se o tempo esta nublado este é o dia que se apresenta...
Se algo desapareceu é sem isto que tenho que me perspectivar...
As únicas coisas que não podem faltar na minha vida, na sua e na de todos são: o desejo de viver bem e a sabedoria para saber se conduzir. É bom sempre lembrar que estes elementos estão dentro de cada um de nós e só os perdemos se formos displicentes consigo.
Evoluir abrange desde as atividades prosaicas do cotidiano às mais complexas. Em tudo podemos nos aprimorar. 
Neste último sábado resolvi me abastecer da ultima geração do celular, um Note II... Confesso que tremi um pouco ao ouvir tudo que ele me oferecia e o implícito domínio que eu deveria adquirir... Pensei em segredo diante da vendedora, uma senhora asiática um “Ás da Tecnologia”... “Ai, Ai, Ai... Como vai ser isto?” Ela ao perceber um resto de espanto que eu não consegui esconder totalmente, me falou: “Senhor, é fácil! É só seguir a lógica. Há uma lógica nisto... Ele é de toque e é só desdobrar neste fluxo.” Pensei nesta hora no fotógrafo da rue Brézin, naquele impressionante domínio e me disse que para os celulares atuais o meu lado psicanalítico quem sabe poderia me ajudar a manuseá-los, pois estão carentes e então basta toca-los para que funcionem. Basta acaricia-los com um dedo para um lado ou para outro para que eles respondam através das funções na velocidade Mega!
Sentei no café Les Philosophes no Marais para refletir e assimilar os comandos do meu novo celular. Pensei na revitalização que impus aos meus neurônios, pensei nas novas sinapses que aconteciam em mim através da minha determinação, pensei também na revitalização do Marais, este bairro de Paris do séc. XVII, que conserva suas características, mas esta de Alma Nova, pensei no Monsieur fotografo, pensei em Freud, pensei no Niemeyer, pensei nas cidades europeias que conservam patrimônios de séculos sem ficarem paradas no tempo, pensei nos urbanistas revitalizadores e concluí...que o importante é conservarmos as nossas histórias sendo um grande urbanista de si.
Para 2013, aproveite o grande símbolo de nascimento do Natal e faça um projeto de modernização na sua alma.
Através da resiliência de Freud, do arrojamento de Niemayer, do determinismo do fotógrafo e das autopercepções, escolha algum bairro de si que precise ser revitalizado e abandone o urbanismo ultrapassado... Vença uma limitação e faça disto a Alma Moderna do Novo Ano.
Vença um traço da sua personalidade limitador de alguma evolução que você tenha que realizar.
Ultrapasse seu luto... Ultrapasse suas carências...
Vença um sentimento persecutório causador do envenenamento dos seus momentos... Uma culpa excessiva, uma mania aprisionadora... Uma tendência a se depreciar...
Escolha algo em você e faça como o fotografo, mude a postura, modifique a expressão e tire a foto de sua Nova Alma.
No Natal de a si este grande presente... Fazer de você uma pessoa de ultima geração... E entre em 2013 de alma nova.
Prepare-se... Ainda há tempo.
O meu Muito Obrigado a todos que contribuíram para que eu pudesse considerar 2012 um Ano que Valeu a Pena ser Vivido.
Feliz Natal em Você!
Até a terceira terça feira de janeiro, quando retorno com as crônicas. Até lá!
Um brinde?
Tome Posse de Si Mesmo e
Feliz Alma Nova!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A Neve que Cobre




Ao chegar a Paris, soube logo de uma história com uma conhecida distante que me deixou estarrecido...
Tina, assim vou chama-la, encontrou em uma de suas viagens ao Brasil, um belo homem que a deixou completamente apaixonada... Como sabemos toda paixão é mobilizadora, pois nos retira de nossa vida cotidiana para nos orientar na nova miragem... Sim miragem, pois a paixão também nos deixa com as percepções embaçadas... Com a serotonina e a oxitocina, que é o hormônio do amor, em níveis elevadíssimos decorrentes deste nirvana periódico, ela se organizou para ir sucessivas vezes ao Rio, até para comemorar o seu redondo aniversário de 50 anos. Aliás, festejado sem crise alguma, pois se sentia debutante da vida e do amor... O “Carioca Charmoso” era só malícia e delícia...
De volta, Tina queria mostrar esta cidade para viver as cenas românticas do filme “Meia Noite em Paris” de Woody Allen... E assim tudo foi organizado...  Para recebê-lo, pintou o apartamento, comprou entradas para exposições, espetáculos, organizou uma prejudicial parada no trabalho, uma vez que ela é freelance. Chegado o grande dia, lá foi ela espera-lo no aeroporto Charles de Gaulle na hora marcada... Falaram-se até o último minuto antes do embarque... Assim Tina passou a noite quase em claro a espera do pedaço de Sol chegar neste final de outono.
Aviso no terminal 2F... Avião Pousado... Mais uma hora... Mais duas... Mais três... Mais quatro... Todos os passageiros já tinham saído e o Sol de Tina não havia surgido.
O que aconteceu? Perguntamo-nos do mesmo modo que ela se perguntava... Várias hipóteses: algum problema na polícia; se perdeu no imenso aeroporto; passou mal durante o voo. Desesperada tentou falar com os funcionários de vários setores e ninguém sabia orientá-la. Até que se lembrou de um conhecido que era comandante de bordo da companhia aérea que ele tinha embarcado. Checou a lista e nada... O nome? Talvez outro sobrenome? 
Todas as hipóteses esgotadas e o gradual confronto com a chocante realidade. Ele simulou tudo! Não havia passagem alguma, não havia embarque, não havia saudades. Não haveria encontro... Em estado de choque, foi colocada num taxi por um sensível funcionário...
Tina chegou em casa só, apenas com a paixão, todos os sonhos, todas as entradas, todos os passeios e com todas as horas de espera. O amanhecer a partir daquele dia seria sem o sol que se tornou cruelmente desaparecido.
Lembro-me dela no Rio, e de sua contagiante alegria, mas quando conheci o “Charmant Chevalier” alguma coisa me passou de modo subjetivo... Os olhos do amado não brilhavam como os dela. Havia algo. Cheguei a comentar, mas fui censurado e também me censurei, pois afinal...
Ao me contarem este triste epílogo, me foram logo lançadas as perguntas: “Como alguém pode ser capaz de fazer isso?” “Como um ser que respira, beija e vive pode ser tão frio, tão indiferente à dor que causa ao outro?” Afinal se trata de um homem sério, bem sucedido!
As indagações e as exclamações revelam o quanto de alguma forma todos foram traídos, pois vivemos um pouco de modo sublimado estes alheios intensos encontros apaixonados... Eu estava chocado e fui invadido em meus pensamentos pelas etapas de Tina para recebê-lo: no minucioso preparo, na ansiosa espera e na imensa decepção.
Pensei alto “As pessoas se enganam e por isso são enganadas”. 
Esta história me lembrou duma aula que dei este ano, que foi considerada pelas turmas uma das mais mobilizadoras. Comecei-a pela explicação sobre as três idades simultâneas que temos: “a cronológica”; “a física” que se cuidarmos hoje a medicina nos afirma que podemos apresentar uma constituição de quinze anos a menos que a cronológica e temos também a idade “emocional”. Esta última se divide em íntima; social e profissional.
Um publicitário de evidência e, portanto de sucesso tem a idade emocional/profissional para o trabalho bem madura, mas a sua idade íntima pode estar presa aos quinze anos, o que o levaria a ainda estar incapaz de criar na vida afetiva profundos vínculos.  Esta específica imaturidade é que tornou este “Carioca” incapaz de olhar o outro com humanidade e respeito. 
Muitos homens podem ter uma aparência segura com fala firme e voz grossa, mas no mundo subjetivo possuem corpos de uma meninice deslocada. Um verdadeiro menino atrevido, voluntarioso e explosivo.
Quantos? Muitos. Muitos mesmo.
O ser humano tem uma tendência a avaliar a maturidade global de uma pessoa pelo sucesso profissional e muitas vezes também pelo poder aquisitivo que em nada refletem o QE intimo e social. Ou seja, o quociente emocional.
Estas pessoas são capazes de viver desejos e paixões, mas ainda estão longe dos compromissos mais profundos. Intensidade não significa maturidade e nem mesmo qualidade.
Razões para apresentar esses comportamentos?
São inúmeras. Difícil relacionar numa crônica sem enfraquecer as visões.
Como afirmou Shakespeare: “Há mais mistérios entre o céu e a terra, do que toda a nossa vã filosofia”. 
Mas... Freud veio e iniciou de modo ímpar a revelação da linguagem do inconsciente, e com isto muitos mistérios foram desvendados. A partir da psicanálise podemos compreender que o “Carioca Charmoso” tem seus mistérios, mas podemos lançar algumas hipóteses ligadas às famosas razões edipianas.
- Ressentimento feminino deslocado
- Relação fusional excessiva com a mãe que não o permite ser fiel e terno nas relações afetivas.
De qualquer maneira é bom lembrar que explicar de modo algum significa inocentar.
Conclusão? O “Carioca Charmoso” se tornou o “Sol Poente” antes da chegada do “Meio Dia”, porque não tem maturidade psíquica para viver o amor sem causar danos.
A nossa lucidez está em saber isto. 
O trabalho possível de maturidade envolve primeiro o reconhecimento da própria inconstância nas relações e na inerente incapacidade de vivenciar as permanências. A partir daí poderá estabelecer um trato consigo, para em segunda etapa realizar as percepções de sentido que irão alavancar o desenvolvimento do psiquismo em direção a uma existência mais adulta e, portanto, mais apto a controlar sua dinâmica existencial.
O que é a vida adulta senão a capacidade de olhar o outro e sair da condição de absoluto narcisismo?
O que é a vida adulta senão a aptidão para ponderar os próprios instintos?
No entanto, o importante é saber que às vezes podemos ser vítima de alguns vilões do amor. Pode ser uma vilã... Pode ser um vilão.
O importante é também saber que o destino não irá proteger o ser humano dessas feridas, mas que temos capacidade de fazer bem com aquilo que nos fizeram Mal.
Afinal... E, Tina?
O que ela poderia fazer de melhor diante desta realidade?
O que fazer com a decepção, com a raiva, com a dor, com a inevitável revolta?
O que fazer?
Aceitar a dor... Encarar o inevitável.
Acima de tudo saber se conduzir na boa direção.
Precisaria aprender que a tristeza e a mágoa que sentia eram inevitáveis respostas emocionais ao acontecido. Eram emoções legítimas.
Ao invés de fazer dos ingressos de suas expectativas folhas mortas de um verão abreviado, teria que recorrer à vivência de uma impecável inteligência emocional. 
Se não pudermos mudar alguma história, temos que recorrer a incondicional liberdade que temos para modificarmos nosso futuro em relação a ela.
Soube que Tina se conduziu muito bem nesta história. Pegou a potência da raiva para reorganizar-se diante da situação.
Tentou falar algumas vezes com ele e jamais conseguiu...
Tina chamou um amigo para cada programa que havia organizado para sair com o Carioca nesta romântica Paris e ainda reuniu em casa todos para um jantar, onde utilizou quase tudo que havia comprado para acolher a sua paixão.
Ao final, me contaram, abriu uma garrafa de champanhe e pediu para que todos levantassem as taças... E?... Brindou a Sorte. Todos de olhos arregalados exclamaram assustados... Sorte de que?
“Mes Cheries!” Sorte... Meus queridos! Cheguei à conclusão que tive duas sortes que não apagam a minha dor. A Primeira? Percebi que vivi momentos inesquecíveis, por isso dói muito, pois é difícil renunciar a esta vontade louca do “quero mais”. A segunda? Sorte que acabou logo, antes que a presença dele ficasse impregnada aqui neste meu mundo.
Como não poderia fazer qualquer coisa em relação a ele, fez tudo que poderia em relação a si mesma.
Hoje pela manhã quando fui correr no Jardim do Luxemburgo, as folhas do outono estavam desaparecidas pela neve que caiu esta madrugada... Ao olhar pensei nesta crônica. Pensei que o verão de Tina se tornou folhas mortas, mas ela prosseguiu e cobriu com um manto de inteligência todos os sonhos amarelados... Cobriu de branco... Fez com o feio o bonito e com essa atitude se permitiu começar a renascer.
Tomou posse de si mesma...



quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Enfeitar a Vida


Hoje enquanto corria meus oito quilômetros diários pelas ruas desta Paris cinza invernal que adoro, passaram duas bicicletas em momentos distintos conduzidas por mulheres e nas cestinhas estavam flores colocadas como se fossem jardineiras. Biciclizavam pelas ruas como se fossem balcões sobre duas rodas. A poesia da cena urbana encantou minha alma que já estava em estado de graça pela endorfina que a aeróbica produz. Ao chegar ao Jardim de Luxemburgo, me deparei com todas as floreiras de mármore preenchidas com imensos arranjos. Apesar do inverno, eles os colocam para colorir e dar sentido aqueles vasos enormes que adornam o lago deste jardim. Colocado em alternâncias nas cores laranja e amarelo e branco o céu cinzento era colorido pela capacidade humana de enfeitar a vida. Mais adiante, dois pinheiros enormes decorados com imensas bolas de natal... Assim, a cada novo trecho do percurso, a minha corrida deixava de ser apenas uma atividade esportiva e saudável para ser o testemunho da poesia urbana.
Ao término, uma hora após, antes de subir para minha casa passei na caixa de correspondência e vi que havia chegado a programação dos Seminários Psicanalíticos de Paris para o inverno 2012 e 2013, com temas interessantíssimos... Pensei o quanto aprender enfeitou as minhas ideias, coloriu meus pensamentos, enriqueceu minhas ponderações, refinou minha sensibilidade, qualificou meus sentimentos, e poetizou minha alma.
Testemunhar novos conhecimentos é semelhante a viajar de olhos abertos em que percebemos cenas que nos inspiram a fazer melhor a nossa vida, fazer diferente...
O saber de uma nova linguagem psicanalítica me fez ampliar o espectro das minhas possibilidades e me ajudou de modo profundo, saber sair com equilíbrio e poesia das difíceis situações da vida. Ajudou-me a me equilibrar nos lutos, nas traições, nos sustos e nas dúvidas. Ajudou-me a passar com duas rodas sem cair sobre os caminhos e sem entrar nos descaminhos pela ausência de boas premissas.
Por vezes desequilibramos apenas pela falta de parâmetros para refletir bem as situações.
Um dos grandes objetivos que me levou a criar meus cursos há exatos 23 anos, foi desejar ensinar tudo aquilo que me fez tão bem aprender. Quantas compreensões me libertaram das dúvidas. Uma alma elaborada é uma alma liberta do peso e, portanto capacitada para apreciar as poesias urbanas que se envolvidas no obscuro das neuróticas incompreensões, se tornam visões inapercebidas. 
Como diz o filosofo francês André Comte-Sponville, a função da vida não é criar inteligência. A função da vida é sobrepujar e se adaptar para que ela possa ser vivida... O conhecimento traz a simplicidade. Segundo este pensador “Ser simples não é procurar a pequenez, mas recusar as falsas grandezas”.
Aprendi, sobretudo que a espera de um imenso acontecimento para ser feliz é procura-la nas falsas grandezas.
A felicidade diz Sponville, depende de uma disposição interior. Qual? A que os antigos chamavam de “sabedoria” e que nós, continua ele, poderíamos chamar de forma mais simplificada de amor à vida. Se você ama a vida, você tem uma excelente razão para viver e lutar e para lutar, mesmo quando a felicidade não estiver presente.
Paris já esta colorida para estas datas mobilizadoras de fim de ano. Falta apenas que cada um faça sua prefeitura interna, começar a enfeitar as ideias e os pensamentos, para que os cinzas dos invernos emocionais possam ser quebrantados pela irradiação das luzes internas. 
A palavra luz pode ser associada a saber, perceber e uma das coisas que podemos ter certeza é que a vida ganha brilho através da luz do olhar que cada pessoa pode lançar em si para os momentos.
Tenho certeza que as duas mulheres das bicicletas sabem enfeitar a vida. A frente delas em todos os percursos que passam não importa quais, estão as flores que elas plantaram pela própria decisão. Alternando as pernas no impulso de pedalar se equilibram na vida. Sem cair devido ao firme propósito de se conduzirem, seguem o inverno primaveril reflexo das almas coloridas.
Você já começou a enfeitar o Dezembro?  
Aproveite e decore suas ideias com o apreendido em 2012 para que brotem sentimentos coloridos no novo ano. O psiquismo é como um cachepot pronto para acolher novos conhecimentos, novas luzes, novos insights.
Se prepare... Ainda há tempo. Muito tempo.

Por Manoel Thomaz Carneiro