terça-feira, 21 de maio de 2013

Construir o Prazer

Outro dia enquanto lia a prova gráfica do meu livro para dar o “ok” final, comecei a pensar nas etapas que constituíram a concepção daquelas letras pensadas. Ao voltar no tempo, fui aos momentos das criações dos cursos, nas aulas que dei, nos alunos e nas inúmeras alunas que perfizeram minha história como professor do Grupo de Estudos Pensar. 

Tudo isso acabou por me reportar a minha infância, na qual adorava montar no meu quarto a sala de aula, onde também construía casas e cidades, em que as miniaturas dos carros se misturavam aos cavalos do forte apache. Assim, através da criatividade me punha a conceber com minhas mãos o meu prazer. Por vezes deitado no chão passava horas brincando sozinho. Não precisava de mais nada.

A escrita deste livro me trouxe de novo esta sensação de imersão nas ideias e na criatividade, onde por vezes parecia que nem tinha corpo. Para finaliza-lo completamente, passei uma semana em Búzios na minha pousada predileta, no quarto que é sempre o meu e lá eu era só pensamentos e imaginação. A passagem do tempo se tornou suspensa da minha percepção, semelhante aos momentos em que eu criava na infância.

A criatividade nos absorve e nos retira das necessidades e das tensões derivadas das faltas. Sofrer muitas vezes advém da falta de propósitos na vida; da falta da vivência de um dom pessoal. 

Quantas pessoas transformaram a vida através da vivência dos dons descobertos. Cada um tem o seu. A proprietária da loja de doces, do restaurante, a chefe de cozinha, a estilista, a voluntária humanista, o médico sem fronteiras, a decoradora, todos com isso estão fazendo as brincadeiras da vida adulta.

As brincadeiras hoje deixaram de ser construídas, pois se tornaram consumos. Os games prontos que quando enguiçam são imediatamente desprezados em detrimento a outro novo em folha.

Quem pega numa tesoura, num papel para recortar, fazer um barquinho ou avião? Quem que com criatividade imagina alunos sentados enquanto se ensina na verdade é para uma sala de aula constituída de uma amiga e várias bonecas ouvintes? Quase ninguém.
Pode-se pensar que estas linhas são saudosistas. De forma alguma. Não paraliso o meu olhar no que já passou. Não gosto de me alimentar de causas vencidas.

A questão é que quando se coloca um lençol nas costas e com uma vassoura se sente “A Feiticeira” ou o “Batman” e também se brinca sozinho através da imaginação, de modo subjetivo habilita o nosso mundo psíquico para a capacidade futura de ter uma dose de autossuficiência, para permanecerem alguns grandes momentos sozinhos sem se sentirem completamente ameaçados. Desenvolve-se também a capacidade de criar os próprios momentos de prazer e, sobretudo se habilita a se ver capaz de construir ou reconstruir a vida.

Na infância brinca-se de viver o futuro, para que um dia se possa o adulto viver no presente.  

Treina-se com os brinquedos a dirigir, cuidar e amar. Hoje só se brinca de competição ou só se desenvolve habilidades para a competição do mercado. Quando as relações afetivas se deparam com questões, ninguém sabe criar e recriar ludicamente o prazer de estar e permanecer.

Quando a vida não se apresenta perfeita e brilhante não serve, mas também nada fazem. Pirraçam batendo os pés com um corpo infantil dentro de uma aparência adulta berrando “Isto não quero, não quero! Quero outro brinquedo”... “Só brinco com brinquedos perfeitos e castigo os que não são”. 

Aquele que não se sente habilitado a viver quando a realidade não apresenta um jogo perfeito de prazer é porque não desenvolveu em si a habilidade para transformar uma coisa em outra, ou mesmo tentar conceber uma nova perspectiva de vida a partir do que dispõe.

Como disse o psicanalista Erich Fromm “A principal tarefa de uma pessoa é promover o seu próprio nascimento.”.

Quando isso ocorre? 

Toda vez que concebemos uma obra que pode ser um livro, um quadro, um bolo, uma nova receita ou toda vez que diante do desabamento de algo que considerávamos bom para nós, conseguirmos estabelecer um ressignificado para garantirmos a presença do sentido da vida.

Comece a pegar uma massinha e modele formas em si para conceber uma pessoa criativa capaz de desempenhar.

Há uma frase de Nietzsche que diz: “Como? Um homem? Não! É um ator desempenhando seu próprio ideal.”.

Adorei desempenhar o meu ideal de escritor e batizei o livro de “Pense Bem – Ideias Para Reinventar a Vida”; edição Casa da Palavra.

O lançamento no Rio de Janeiro será dia 11 de junho, às 19:00 h na Livraria Argumento do Leblon na Rua Dias Ferreira, 417.

Brincar é coisa séria. Eu brinquei de tantas coisas que a vida se tornou um manancial de boas sensações. 

Já que a vida as vezes não tem grandes humores, cabe a mim criar os bons momentos. 

Pode-se brincar de médico, de enfermeira, de Jane e Tarzan, pode-se brincar de feliz, de policia que algema os ressentimentos para colocá-los longe das brincadeiras.

Pode-se também brincar de analista e prestar muita atenção naquilo que está impedindo você de brincar de viver.

Quando a vida trouxer dificuldades, enfrente e depois brinque de vitorioso.

Depois? Durma em paz no repouso dos guerreiros.

Imagens: GettyImages

8 comentários:

  1. Manoel....você há muito tempo presente na minha vida...dando suas aulas maravilhosas fazendo todos refletirem...agora com suas cronicas maravilhosas ....amei..demais essa....e tantas outras....estou louca para ler seu livro....Te admiro muito...Com todo meu carinho Gê

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  2. Fico espantada com a facilidade que alguns pais encontram em dar a seus filhos Ipads e Iphones para brincarem, sem se importarem com o isolamento social que esses aparelhos provocam nas crianças e a dependência quase toxicológica que eles provocam. Vc está absolutamente certo, interagir, fantasiar, criar soluções ,nos fortalece de uma forma concreta. O mundo virtual é pobre se não for usado com absoluta sabedoria. Parabéns!!!

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  3. realmente vc é fenomenal com todas as interpretações da palavra e eu viciada nas suas palestras e cronicas ....o que fazer???
    obs : uma amiga portuguesa,a qual enviei uma de sua cronicas ,agora me cobra toda semana!!!!

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  4. "PENSANDO BEM":
    "VIVER É NÃO TER A VERGONHA DE SER FELIZ"!
    PARABÉNS à MÃE!
    PARABÉNS ao FILHO!
    PARABÉNS ao CRIADOR que nos PRESENTEIA com as mais belas LIÇÕES para a FELICIDADE!
    carinhosamente
    JACINTHA

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    1. Se todos fossem iguais a VOCE!!! Que PRAZER de VIVER!!!
      Saudades...isaura

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  5. Voce une letras e tempo. Te ler é ouvir música.

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  6. Parabéns Manoel, pelo seu livro, mais um pedaço da sua trajetória de Luz na vida de todas as pessoas, que se permitem serem transformadas por vc, que Deus te abençoe, te ilumine, e transforme, em benção a sua vida, Bj carinhoso Lu Franco

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  7. Maravilhoso!!!!!

    Vc sempre perfeito na maneira de nos mostrar algo tão simples...!

    Quero muito poder proporcionar todas essas vivências para minha filha. E sua contribuição para nos ensinar tudo isso é essencial! Agradeço a Deus por poder continuar te acompanhando mesmo que de longe...!

    Beijos ,
    Marcela

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